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A pirataria nunca foi a culpada. Foi a indústria do entretenimento que se sabotou

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Quer dizer que precisou descobrirem um relatório que a União Europeia ocultou de todo mundo para constatar o óbvio? Eu, e muita gente que escreve sobre tecnologia ergue a placa do EU JÁ SABIA, quando o tal relatório secreto diz que a pirataria e compartilhamento de conteúdo em nada interfere na queda de consumo de entretenimento.

Eu já sabia disso. Já imaginava isso. Eu sempre achei que essa história de culpar o compartilhamento de conteúdo era uma forma de tentar colocar a culpa no sofá (quem conhece a piada sabe do que eu estou falando). Um claro indício disso era o fato de, por exemplo, a série Game of Thrones ter AINDA MAIS AUDIÊNCIA depois de ter vários episódios vazados na internet nessa temporada.

Aliás, a HBO foi uma que tomou diversas (e sábias) medidas para minimizar estragos. Lança episódios de séries no mesmo dia que nos Estados Unidos em vários, países, lançou plataformas digitais para os fãs que querem acompanhar as suas séries na internet, e até mesmo um serviço de transmissão online que não depende mais da assinatura da TV paga para assinar. INDIVIDUALMENTE!

Os demais canais pagos, aos poucos, seguem essa estratégia. Mas de forma lenta. Ainda estão agarrados ao formato tradicional de oferta televisiva, e presos aos tradicionais empacotamentos de TV por assinatura.

Aliás, é mais fácil culpar o formato tradicional de consumo de entretenimento do que culpar a pirataria em si. Até porque a Netflix é outro item que acaba com o argumento de que a culpada é a pirataria. Bastou oferecer um modelo de negócio justo para os assinantes e sustentável para a empresa, e pronto: todo mundo está assinando o serviço.

Pacotes de TV por assinatura com um monte de canais que não servem para nada para o assinante, a não ser encarecer o próprio pacote, tem mais culpa no cartório do que o compartilhamento de arquivos. As pessoas estão abandonando a TV paga porque é cara demais, tem um monte de canais lixo, e as operadoras não dão a chance do assinante apenas contratar os canais que deseja.

Apesar de alegarem diversas dificuldades, como a inviabilidade de sustentar o negócio com essa tal liberdade de escolha, entendo que, enquanto o formato não mudar, a TV paga está fadada a sucumbir.

Assim como o cinema, que lá fora custa entre US$ 30 e US$ 50 os custos de dois ingressos para um filme (algo não muito diferente daqui, entre R$ 100 e R$ 150 de custos totais), são mais culpados pelas quedas nas bilheterias do que a pirataria.

No caso dos cinemas, o desespero é tão grande, que já pensam em adotar o streaming de filmes (via Apple ou Amazon) para minimizar as perdas dos estúdios, entregando as estreias antes na casa do usuário, para só depois chegarem nas salas dos cinemas.

As franquias de cinema estão odiando essa possibilidade. Mas a culpa é deles. Afinal de contas, ditaram as regras até agora sobre o quanto as pessoas deveriam pagar para ver os novos filmes.

Parece que o jogo virou, não é mesmo?

Sempre fica a lição que a indústria fonográfica levou da internet. Antes, as gravadoras ditavam as regras com punho de ferro. Veio a Apple com a iTunes, e mudou tudo. Veio o YouTube e sua democratização da música, e mudou mais ainda. Resultado: artistas tendo que fazer shows adoidado para manterem as contas em dia.

Uma mudança de formato e de filosofia. É isso o que a indústria do entretenimento precisa em tempos de internet.

Caso contrário, está fadada a mudar à força.


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@oEduardoMoreira