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A Bélgica eliminou o Brasil, e eu fiquei muito feliz com isso

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Aquele catadão de 2014 deveria sentir vergonha nesse momento.

Em um dos jogos mais emocionantes da Copa do Mundo FIFA Rússia 2018, a Bélgica eliminou o Brasil ao vencer por 2 a 1. Perdemos. Sim. Fomos eliminados para um time belga que, no coletivo, tinha um conjunto mais equilibrado, o que resulta em uma disciplina tática melhor. Para os desinformados, é uma Bélgica que está invicta há 23 jogos, ou mais de dois anos. Com uma disciplina tática absurda e alguns dos craques do futebol mundial.

E eu estou feliz com esse resultado, apesar da natural tristeza da eliminação. E esse post explica por que estou feliz com a eliminação de hoje.

Para começar, eu estou feliz pelo óbvio: não fomos humilhados dessa vez. Eu começo a acreditar que o 7 a 1 sofridos contra a Alemanha em 2014 foi um acidente, um aborto da natureza, ou um filho da cruza do Felipão com o Parreira. De qualquer forma, está bem claro que não vendemos aquela Copa (sério, nem sei porque tem gente que ainda acredita nessa bobagem), e que aquele time jamais teria qualquer chance de vencer aquela Alemanha, que era sim muito melhor que o Brasil.

É uma pena que o mesmo Felipão que liderou um time incrível do Brasil rumo ao quinto título mundial foi o mesmo Felipão que acabou com carreiras de jogadores de qualidade, como Dante, David Luiz e Oscar. OK, não acabou completamente com as carreiras deles, mas eles nunca mais foram os mesmos. E o fantasma dos 7 a 1 vai perdurar para sempre em suas almas.

De novo: o time de 2014 era uma bosta. O time de 2018 é muito melhor.

O segundo motivo para ficar feliz com a eliminação de hoje é que lutamos em campo. Lutamos muito. Esse time correu demais, se entregou, se doou em campo. Em um time onde muitos temiam pelo comportamento e postura de alguns atletas (acho que não é hora de buscar culpados ou demonizar quem quer que seja, mesmo que alguns mereçam) que mais se assemelham a popstars, constatamos hoje que Tite conseguiu efetivamente convencer a todos eles da importância que é estar em uma seleção brasileira. Algo que se perdeu com o passar dos anos.

Não estou aqui dizendo que o resultado do jogo foi injusto. Pelo contrário: a Bélgica mereceu vencer o Brasil porque foi taticamente perfeita, enquanto que o time brasileiro cometeu falhas coletivas em dois fundamentos considerados básicos para bons resultados no futebol moderno: passes e chutes a gol.

É um time com elevado controle da posse da bola, mas errando passes de dois metros e não chutando a gol não poderia mesmo vencer a organização tática de um time que, repito, está cheio de ótimos jogadores disputando exatamente os mesmos campeonatos europeus dos nossos principais jogadores.

E, individualmente, foi possível ver pontos positivos no Brasil. Lukaku só teve um lance expressivo no jogo, que foi justamente puxar o contra-ataque para o segundo gol da Bélgica. E isso aconteceu porque Miranda fez um excelente jogo. Douglas Costa e Firmino entraram bem e movimentaram as ações do time, deixando o meio campo e o ataque mais rápido. E Renato Augusto melhorou o posicionamento individual que Paulinho não conseguiu (apesar de um Fernandinho péssimo hoje), e fez o gol que deu algum alento para a torcida brasileira.

Como todos esperam que se fale do Neymar… sim, ele estava desaparecido. Não apresentou o seu melhor, e hoje era um jogo para ele decidir. Por outro lado, eu estou feliz por ele também, pois em dado momento do jogo, ele mostrou ao mundo que ainda tem algum cérebro pensante em sua cabeça. No suposto pênalti que ele teria sofrido, o próprio Neymar pediu para avançar o jogo, pois se o lance fosse para o VAR, o árbitro constataria a forçada de barra, e poderia dar o cartão amarelo que o deixaria de fora de uma eventual semi-final.

A Bélgica, coletivamente, fez um jogo excepcional. Uma formação tática muito inteligente, mostrando que sabia que estudou o Brasil. Não foi perfeito porque sofreu um gol. E vai dar um trabalho danado para uma ótima França, que avançou. Na terça, teremos uma final antecipada.

 

 

E o que faltou para o Brasil hoje?

Calma. Controle emocional. Chutar a gol.

Os passes errados eram parte de um emocional ruindo com o passar do tempo. Historicamente, a seleção brasileira não tem os nervos de aço que precisa para decidir. Em todas as finais (exceto em 1994, que foi para os pênaltis – e aquele foi o Brasil mentalmente mais forte que venceu uma Copa do Mundo), o time brasileiro só rendeu de forma fluída se saiu na frente. Quando sofre o gol primeiro, nossos jogadores sentem o baque, e o time tem problemas.

Mas tudo o que escrevi no parágrafo anterior são lições que precisamos aprender. Aliás, desde antes de 2014, inclusive. Ter a força e controle mental para jogar o jogo. Entender os momentos do jogo, e saber lidar com as diferentes situações adversas. Trabalhar os nervos para se superar.

Eu deixei para o final do post o principal motivo para ver essa eliminação de hoje com alegria: um pouco do meu ‘eu’ torcedor, que morreu em 2014, conseguiu ressuscitar com uma boa Copa do Mundo feita pelo Brasil.

É impossível não se envolver. O vídeo do comercial da Nike que eu compartilhei antes da Copa começar fez com que eu me lembrasse que ia acontecer uma Copa do Mundo, e isso mexeu comigo por dentro. Eu prometi para mim mesmo que assistiria aos jogos do Brasil com a mesma neutralidade que testemunharia as campanhas das demais seleções. Não consegui. Acabei torcendo. Porque corre sangue brasileiro nas minhas veias.

Eu voltei a ver jogadores lutando e se entregando em campo, enfrentando as dificuldades, buscando as soluções em campo para vencer os jogos. Não acertaram em tudo, mas pelo menos lutaram muito. Diferente de 2014, onde os jogadores desmoronaram diante de inúmeras dificuldades (e de um 7 a 1 traumático). É um time feito de jogadores voluntariosos, comprometidos, resignados. Comandados por um Tite que conseguiu resgatar em muitos de nós, brasileiros (eu, inclusive), o desejo de torcer por essa seleção brasileira.

Eu estou feliz porque voltei a ver o Brasil jogar futebol por vontade própria. Agora, quero ver onde esse time pode chegar. Quero ver se Neymar pode levar uma Copa do Mundo em sua última tentativa válida (30 anos em 2022). Quero ver se Tite pode continuar com a evolução do futebol brasileiro, não apenas dentro de campo, mas fora também.

Os conceitos aplicados por Tite e Edu Gaspar na preparação para essa Copa do Mundo foram muito interessantes. Envolvendo inclusive os times da Série A do Campeonato Brasileiro. E o que acho o máximo nisso tudo é que somos tão fodas no futebol, que nem mesmo a CBF atrapalhando deixamos de evoluir.

Até porque, quando estamos no fundo do poço (2014), só existe um lugar para ir: para cima.

 

 

A Bélgica venceu o Brasil. A Bélgica é um time melhor. Mas eu estou feliz. Porque o futebol brasileiro pode vencer na derrota. Pode crescer na derrota. Pode evoluir ao assimilar as lições do fracasso.

Não quero ser hipócrita ou dúbio. Parte de mim está triste pela eliminação. Mas a outra parte comemora. Porque voltou a se orgulhar de nascer no país do melhor futebol do mundo. Não o melhor em vencer. Não podemos vencer sempre. Mas somos diferentes. Somos especiais. E evoluímos em relação à tragédia de 2014.

Obrigado, caras! Obrigado, Tite. Foi uma boa Copa do Mundo, apesar do hexa não chegar.

Não vamos nos ver em 2022.

Estou procurando o calendário para o próximo jogo em 2018.


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@oEduardoMoreira